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19 de Abril de 2024

Ex-doméstica consegue se formar em direito e passar no concurso da PM após estudar com livros que marido recolhia no lixo

Publicado por ADVOCACIA DIGITAL
há 4 anos

Os dois meses em que morou embaixo de uma lona há 17 anos contrastam com a situação atual da aspirante da Polícia Militar Andreia Guimarães Tavares, 32 anos, que mora com a família, em Goiânia. A vida da ex-doméstica mudou muito desde que se formou em direito e passou no concurso da corporação. O marido, o gari José Francisco Barros, 37, teve papel fundamental nesta guinada: pegava livros que tinham sido jogados no lixo e levava para a esposa estudar.

Natural do Pará, o casal chegou na capital goiana em 2003. Na bagagem, trazia os sonhos de uma vida melhor. No colo, o filho recém-nascido, atualmente com 16 anos.

O começo foi bem mais complicado do que eles imaginavam. José arrumou um emprego logo no início, mas até o salário sair, eles se viraram como dava.

"Quando a gente veio, o início foi bem difícil. Moramos embaixo de uma lona, só tinha uma cama, fazíamos as necessidades no mato. Ele pedalava 13 km para ir ao trabalho e o mesmo tanto para voltar para casa", disse Andreia ao G1.

Algum tempo depois, eles conseguiram alugar um cômodo. Quando o filho completou 6 anos, passou a ficar em uma creche. Andreia, então, foi trabalhar como doméstica para ajudar o marido nas despesas.

Esta imagem no pode ser adicionada Andreia Tavares se forma em direito em Goinia Foto Andreia Guimares TavaresArquivo pessoal

Andreia Tavares se forma em direito, em Goiânia — Foto: Andreia Guimarães Tavares/Arquivo pessoal

Livros do lixo

Aquela não era nem de longe a casa que o casal sonhava. Andreia via nos estudos a possibilidade de ascensão. Ela resolveu voltar para a escola e conseguiu concluir o ensino médio. O marido ajudava de forma especial.

"Nessa época, meu esposo já tinha entrado na prefeitura como gari. Eu trabalhava como empregada e estudava à noite. Ele sabia que eu gostava muito de ler, de estudar. Aí passou a recolher livros do lixo", conta.

Em sua maioria, eram obras literárias, rapidamente devoradas por ela e que a ajudaram muito na prova do Enem, realizada dois anos após a conclusão do ensino médio, em 2012."Eu tive uma nota muito boa, principalmente na redação. Eu lia muito e consegui escrever muito bem", conta.

Escrevia tão bem que o resultado lhe rendeu uma bolsa de estudos integral para estudar direito. Ela revela que, ao longo do curso, nunca comprou um livro jurídico, pois sempre recebia doações e pegava emprestado com os colegas.

Andreia Guimares Tavares guarda livros recolhidos no lixo pelo marido que gari em Goinia Foto Andreia Guimares TavaresArquivo pessoal

Andreia Guimarães Tavares guarda livros recolhidos no lixo pelo marido, que é gari em Goiânia — Foto: Andreia Guimarães Tavares/Arquivo pessoal

Concursos

Quando entrou na faculdade, Andreia já tinha um concurso na prefeitura, no qual ganhava um salário mínimo. Para complementar a renda, ela também fazia faxina como diarista.

Determinada, ela conseguiu passar no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) antes de concluir o curso. Em 2016, prestes a se formar, uma nova oportunidade bateu à sua porta: um concurso para a carreira de oficial da PM.

"Era a oportunidade de mudar de vida. Apesar de já estar concursada na prefeitura, com o salário de oficial eu ganharia cerca de seis vezes mais. Para mim, era interessante por uma questão de carreira, de salário", recorda.

A concorrência não era animadora. Apenas dez vagas estavam disponíveis para 2,5 mil inscritos. Com muito esforço, Andreia foi uma das aprovadas.

"Eu já estava com uma bagagem boa da faculdade. Eu estudava nos pontos de ônibus, ouvia áudio das leis enquanto fazia comida e limpava a casa. Raramente eu sentava para estudar, estudava em lugares atípicos", lembra.

Andreia Guimares Tavares junto com o filho e o marido em Goinia durante evento da Polcia Militar Foto Andreia Guimares TavaresArquivo pessoal

Andreia Guimarães Tavares junto com o filho e o marido em Goiânia durante evento da Polícia Militar — Foto: Andreia Guimarães Tavares/Arquivo pessoal

Gratidão e planos futuros

Em julho, Andreia espera ser promovida a tenente. Ela quer traçar todo o percurso até o cargo de coronel, o mais alto da patente militar.

A aspirante demonstra profunda gratidão pelo marido, que até hoje trabalha como gari. Depois de todo esforço que ele fez para que a esposa concluísse seus sonhos, ela acredita que é a hora de retribuir.

"Ele foi essencial. Sem ele, jamais estaria aqui. Ele abriu mão dele para poder me ajudar. A gente era sozinho aqui em Goiânia e, quando eu estava estudando, ele estava cuidando do nosso filho pequeno" , afirma.

"Agora que já estou na carreira de oficial, ele vai estudar. Ele vai terminar o ensino médio, quer fazer curso superior e fazer um concurso na área de Segurança Pública. Agora é a minha vez de ajudar ele. É um ajudando o outro", complementa.

Do barraco de lona para a casa própria, vieram também um carro e uma moto. O filho cursa o ensino médio e sonha fazer faculdade de sociologia. Olhando para trás, fica a lição de ser persistente e poder contar com quem se ama.

"O que eu falo para as pessoas é que jamais desista dos seus sonhos. É difícil, mas temos que acreditar na gente e, acima de tudo, valorizar as pessoas que estão do lado da gente nos momentos difíceis", celebra.

(Por: Por Sílvio Túlio e Vanessa Martins /Fonte: G1)

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9 Comentários

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História linda e inspiradora. continuar lendo

Cara, todo respeito ao casal. Mas olha as fábulas que esses colunistas contam. "Com livros que o marido encontrava no lixo". Eles não tinham Internet? A história é legal, mas não precisa ficar fantasiando na manchete. continuar lendo

Quem teve vida fácil pode falar dessa forma. Quem batalhou para sobreviver não duvida. Que morou num barraco de lona, quem habitou um cubículo, com mulher e filho tinha que pensa em comer. Não tinha dinheiro para comprar celular com internet. No máximo um pebinha que só faz e recebe ligação. Parabéns ao casal. Um exemplo para o Brasil. Que o filho lhes siga o exemplo e brilhe como sociólogo. Torço que o marido tenha o mesmo sucesso que a esposa. continuar lendo

Tinham internet, sim.

Passavam as dificuldades porque queriam, viveram uma vida dura e penosa por pura diversão, para que a história fosse legal ou fizessem uma manchete fantasiosa.

Como alguém que não tinha o que comer direito, morando debaixo de lona, catando livros no lixo, não tinha internet? Como esse casal não comprou um dispositivo eletrônico (celular, computador, notebook) e não pagava um plano de internet renegado outras despesas básicas, inclusive com um filho pequeno para cuidar, para ter acesso a um serviço ainda tão caro?

O seu "Cara, todo respeito ao casal" foi apenas uma tentativa de maquiar o sarcasmo, desprezo e cinismo evidenciados no seu comentário, que desprezou todo o sofrimento, esforço e superação do casal.

Antes de sair dizendo besteira, pense se o que você tem para dizer é útil para alguém. Não sendo, guarde para si a opinião e evite externá-la. continuar lendo

Internet? Quem mora na rua debaixo de uma lona e que morou em uma casa de um cômodo teria dinheiro para comprar um computador ou celular e pagar um provedor de internet? Desculpe amigo, mas seu comentário é infeliz. continuar lendo

Jeus amado... por trás de todo "mas" tem um sujeito sem alma, que desconhece a vida real lá fora

Não faça isso, rapa... seja uma pessoa melhor continuar lendo

Ou seja.
Não existe desculpa para quem não tem, ou não se dá o valor.
Histórias de pessoas que vencem as adversidades sempre comovem e incentivam. continuar lendo

Que exemplo! Quem quer da um jeito, não arruma desculpas. continuar lendo