Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
20 de Abril de 2024

Menos é mais: Juiz do tribunal escreve receita para advogado ser mais conciso

Publicado por ADVOCACIA DIGITAL
há 6 anos

Ex-advogado, agora jogando em outro time, o juiz Douglas Lavine, do Tribunal de Recursos de Connecticut (EUA), pediu que advogados não façam o que ele fazia: falar e escrever muito. Em artigo publicado pelo Jornal da ABA (American Bar Association), ele tenta entender a prolixidade dos operadores de Direito, incluindo promotores e juízes.

Com base em sua autocrítica e em conversas com colegas, o juiz formulou algumas hipóteses para essa prática: “uma teoria é a de que os advogados pensam que devem formular sentenças longas e complexas, recheadas de juridiquês, quando falam ou escrevem, para soarem como advogados”.

Outra teoria, afirma, “é a de que nós pensamos que somos mais eloquentes do que realmente somos”. E há mais uma, provavelmente a mais generalizada: “Sentimos receio de deixar alguma coisa de fora que poderia ser relevante. Mas, ao falar ou escrever muito, corremos o risco de perder o argumento central no meio de tantos argumentos periféricos”.

Autor dos livros Cardinal Rules of Advocacy e Questions From The Bench, ele coletou algumas citações para “enriquecer” seu artigo: “A concisão é a alma da sabedoria” – Hamlet; “Seja sincero, breve e sente-se” – Franklin Roosevelt; “O segredo de um bom sermão é um bom começo e um bom fim e ter esses dois o mais perto possível um do outro” – George Burns.

Lavine não está sozinho nessa luta a favor da concisão. Há quase uma “campanha” nos Estados Unidos, para convencer operadores do Direito a abandonar a prolixidade e adotar a concisão. Mas ele tem suas próprias ideias sobre como fazer isso e oferece, no artigo, dez sugestões:

1. Mantenha a simplicidade

Tente reduzir seu ponto principal em uma sentença ou duas. Mesmo o caso mais complexo tem um ponto central, que deve ser bem articulado.

Exemplo: Em vez de “Este processo levanta a questão sobre se, de acordo com o Artigo 6 da Constituição do Estado e com a Quarta Emenda da Constituição dos Estados Unidos, bem como com decisão precedente, a busca feita pela polícia no carro de meu cliente, em 22 de novembro de 2016, se baseou em causa provável ou se, conforme alegamos, o policial que conduziu a busca se valeu inapropriadamente de sua intuição, para concluir que havia contrabando no porta-malas”, seria melhor “Este processo se refere a uma busca ilegal no porta-malas do carro de meu cliente”

2. Evite longas citações

Só porque você tem um computador, não significa que você deva copiar e colar longas citações em seu texto. Isso é frequentemente desnecessário. Comprima os argumentos, as sentenças e os parágrafos tanto quanto possível. Por exemplo, não cite três precedentes em sua petição, se uma for o suficiente.

3. Contenha-se

Não se sinta obrigado a usar todo o tempo que lhe é concedido em suas sustentações orais ou todas as páginas possíveis em uma petição. Se você pode fazer seu trabalho em 10 páginas, em vez de 35, faça em 10. Se puder apresentar sua sustentação oral em cinco minutos, em vez de 25, será muito melhor. Os juízes irão ficar profundamente gratos.

Se você não tem nada a dizer no contraditório, não se sinta obrigado a ser brilhante. Apenas declare que não tem nada a acrescentar e sente-se.

4. Conheça seu público

Ajuste suas alegações/sustentações às necessidades de seu público (jurados, juiz, desembargadores, etc.). Nunca apresente um argumento só porque você o acha interessante ou mesmo irrefutável, se ele não irá ajudar a atingir seu objetivo de convencer seu público-alvo. Isso exige que você pense muito e planeje com antecedência. E requer conhecimento do público que você quer persuadir e suas prováveis predisposições.

5. Edite sem piedade

Já se disse que a arte de escrever bem é a arte de editar bem. Quase sempre há uma maneira de encurtar a redação de suas sentenças. A não ser que você esteja editando um soneto de Shakespeare, corte, corte, corte.

6. Evite o juridiquês

Muitos advogados pensam que têm de falar e escrever de maneira intrincada, legalista, embebida em jargões da área, porque isso é próprio da classe. A verdade é que a maioria dos advogados bem-sucedidos escreve de uma forma clara e direta, usando sentenças curtas. Em algum momento, o uso de palavras ou frases em latim ou mesmo de um conceito mais complexo será necessário. Mas essa será uma exceção à regra.

7. Resista à tentação

A tentação de usar argumentos secundários (ou paralelos) é muito grande. Frequentemente, ao preparar uma petição ou sustentação, os advogados perscrutam as profundidades interiores de uma questão jurídica fascinante ou de uma peculiaridade fatual. Lembre-se de que o que lhe parece fascinante pode parecer desinteressante para as pessoas que você está tentando persuadir. Tente se lembrar de que seu público tem uma visão limitada de seu caso e dos aspectos do caso que podem lhes interessar.

8. Apresente seus argumentos a leigos

Sem citar o santo ao contar o milagre, para não quebrar a confidencialidade advogado-cliente, discuta seus argumentos com pessoas leigas (parentes, amigos, empregados do escritório não advogados, etc.), com o objetivo de ver se eles os entendem e acham que são convincentes. Ouça as dúvidas deles com humildade e tente melhorar. Se você entrar muito fundo no assunto e sua petição/sustentação não for bem entendida, você terá um problema.

9. Organize seus argumentos

Selecione dois ou três de seus melhores argumentos e trabalhe arduamente nele. É difícil um caso em que são necessários mais de dois ou três argumentos ganhadores. Escolha os argumentos com maior probabilidade de prevalecer e se concentre neles. Argumentos fracos são contraproducentes, porque levam você a “perder pontos” com quem vai decidir o caso, diminuem o impacto dos argumentos fortes e reduzem sua credibilidade.

10. Finalize sua apresentação

Após apresentar seus argumentos essenciais, pare por aí.

*(Foto meramente ilustrativa: reprodução Internet)

(Por João Ozorio de Melo / Fonte: Conjur)

.................................................................................................

🌐 Conheça nosso ➡️ INSTAGRAM e FACEBOOK ⬅️

📰 Veja também:

✔️ Curso de Atualização do Processo Civil 2021 - Com os melhores processualistas do Brasil.

✔️ Petições de Trânsito 2021 - Baixe um modelo gratuitamente!

✔️ 300 mil Modelos de Petições Editáveis + 9 Teses Jurídicas (Buraco Negro, 10% do FGTS, Buraco Verde, Saldo Pasep e muito mais).


  • Sobre o autorADVOCACIA DIGITAL - O FUTURO COMEÇA AGORA
  • Publicações1203
  • Seguidores1222
Detalhes da publicação
  • Tipo do documentoNotícia
  • Visualizações9562
De onde vêm as informações do Jusbrasil?
Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/menos-e-mais-juiz-do-tribunal-escreve-receita-para-advogado-ser-mais-conciso/611760595

Informações relacionadas

João Rodrigo Stinghen, Advogado
Artigoshá 4 anos

[Modelo] Pedido de envio imediato de dados pessoais

Alessandra Werson, Advogado
Artigoshá 7 anos

O que você precisa saber sobre a Remissão nos Planos de Saúde

Aline Lucia Ferreira Barroso, Advogado
Artigoshá 9 anos

Os desafios do advogado prolixo na Justiça do Trabalho

20 Comentários

Faça um comentário construtivo para esse documento.

Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)

O juiz (ou o estagiário lendo a peça) tem inúmeros outros processos e já pode ter visto a mesma causa e a mesma argumentação antes.
Qual o sentido de rechear o simples?
Creio que longas abordagens devem ser utilizadas para criação e elucidação de teses em discussão. O que já é consolidado (grande parte do Direito brasileiro) não necessita de muito recheio, apenas o básico: ligação do fato com o direito e o porquê de sua aplicação.

Menos é mais. Ganha-se agilidade processual e até mesmo, as vezes, paciência a mais do juiz que passou o dia vendo mais um processo de dano moral por inscrição indevida no SPC. continuar lendo

Ainda sou estudante de direito e estagiário, mas desde já busco ser claro e conciso nas minhas peças. Na prática, é perceptível que o Juiz e o Promotor de Justiça raramente dão muita atenção a uma causa relativamente simples, onde normalmente quem faz o processo é o analista ou o estagiário. Em uma ação de alimentos, por exemplo, o juiz e o analista saberão a diferença de obrigação e dever alimentar, enquanto que o estagiário pode não saber disso, achando inclusive que são coisas sinônimas. Para isso, eu opto por colocar em nota de rodapé uma breve explicação dos dois institutos. Se a pessoa sabe o que é, passa direto, se não souber, acaba lendo.

Os servidores e estagiários dificilmente irão ler a peça inteira quando o advogado for prolixo e utilizar uma linguagem rebuscada. Se lerem, podem não captar o argumento principal que você quis passar na peça.

Infelizmente é bem difícil dosar a mão na hora de escrever a peça. Pode acontecer de nós escrevermos uma peça um pouco mais didática e acabar irritando o juiz, que quer apenas que você vá direto ao ponto. Se você for direto ao ponto, pode cair na mão do estagiário que não vai entender nada pois não detém um conhecimento mais avançado daquela matéria (gosta de penal e caiu na vara de família).

Também tem o lado do cliente, que muitas vezes acreditam que uma peça boa, é uma peça longa continuar lendo

Exatamente assim. Não cabem elucubrações em uma petição. continuar lendo

Concordo plenamente com a simplicidade e objetividade da redação, o problema é que nem as petições mais simples estão sendo lidas e interpretadas corretamente, as vezes deparamos com decisões completamente diversa do caso e até contra a lógica. Nos casos das petições prolixas nem se fala, a não ser que o subscritor tenha uma forte influência. Tá difícil advogar. continuar lendo

Artigos como este são fundamentais para mudança de conduta. Todos sabem que o ideal é simplicidade, desde que haja compreensão do texto. Em pleno Século 21, já se deveria praticar essas recomendações, mas continuamos a decorar o palavreado rebuscado de sempre a fim de, numa audiência, demonstramos nosso vasto "conhecimento jurídico".
Do mesmo jeito que adoramos o "juridiquês", também adoramos nos auto-intitularmos "doutores", quando ainda somos apenas "bacharéis". Não nos basta ser simples e objetivos. Talvez façamos isso por insegurança ou um tremendo complexo de inferioridade, o que é desnecessário, evidentemente. continuar lendo

Isso aí, mano. Agora é nóis. continuar lendo